”Algumas pessoas focam-se quase
exclusivamente nas suas experiências do passado. De um modo geral, em
experiências mal sucedidas, em resultados não conseguidos, em problemas. Para
estas pessoas, o futuro não faz parte da experiência. O resultado é quase sempre
uma sensação de frustração e de impotência.
No lado oposto, todos conhecemos alguém que vive obcecado com o que
ainda não aconteceu: como vai acontecer, que problemas vai trazer, que
consequências (de um modo geral negativas) vai criar. Esta ansiedade - causa
e efeito - está muitas vezes ligada a uma falta de balanço temporal: de
interligação das experiências passadas com o presente e com os acontecimentos
futuros. Como consequência, a pessoa tem poucas referências que lhe permitam
tomar decisões para o futuro. Vista deste modo, a vida não é uma sequência
interligada de acontecimentos, apenas uma série de fatos desligados entre si,
desconexos.
Um dos mais problemáticos impactos deste foco obsessivo no passado ou
no futuro é a dificuldade de se focar no presente - a única parte do tempo em
que se pode construir algo. Não temos condições para saber o que deve ser
feito hoje como forma de garantir objetivos futuros. Para isso, é
absolutamente necessário que estejamos lá: no presente. Se o nosso foco estiver
nas experiências passadas ou nas preocupações futuras, muito do que está a
acontecer hoje vai engrossar a coluna das experiências negativas passadas.
Por não ter sido feito com a atenção devida e a projeção necessária.
O impacto no planejamento
Hoje em dia, quase todas as pessoas se socorrem de uma ou outra forma
de "planejamento" das suas atividades, com o objetivo de lidar com
prazos, cumprir objetivos, atingir resultados. Existem ferramentas em forma
de planos diários, semanais, em papel ou suporte eletrônico. Todas prometem
uma ajuda para lidar com o crescente aumento de atividades a que necessitamos
dar resposta. A forma como usamos as agendas reflete um pouco a nossa relação
balanceada - ou não - com os três aspectos da linha do tempo (o passado, o
presente e o futuro).
Algumas agendas parecem uma manta de retalhos: mostram-nos
compromissos isolados, anotações desgarradas anotadas por uma memória
caprichosa que nesse dia se lembrou de algo e nos outros não. Tal como um
estudante que prepara uma matéria sem nenhum impacto na sua escolha futura de
formação. Ou como alguém que não tem nenhuma expectativa para o futuro. As
pessoas excessivamente ansiosas com o futuro têm as agendas sobrecarregadas
de inúmeras tarefas - isoladas, desgarradas, mas imensas! Estão sempre
ocupadas, têm pouco tempo para si e para a família, têm uma atitude
permanente de que há sempre algo pendente. De um modo geral, os seus
objetivos não estão claros ou não são exequíveis.
Outras agendas mostram-nos uma relação mais complexa entre o que tem de ser feito hoje e no curto prazo para alcançar algo mais tarde. Mostram-nos um flow, uma interligação entre o passado, o presente e o futuro. Estas pessoas vivem menos estressadas, mais confiantes e, de um modo geral, tendem a sentir-se mais realizadas e a conseguir mais desafios. São ainda estas as pessoas que melhor conseguem um equilíbrio entre a sua vida privada e o trabalho.
O sentido da vida
Uma das formas de evitar a falta de balanço temporal é encontrar para
si próprio uma visão, um sentido para a vida. Segundo Rappaport *, sem uma
filosofia de vida é como se estivéssemos a explorar um novo território sem um
mapa: é fácil quando seguimos uma estrada ou um caminho definido. Quando esse
caminho não está claro no terreno, é quase impossível orientarmo-nos.
E o futuro é um caminho pouco conhecido para a maioria dos mortais.
Definir objetivos de vida em conjunto com os objetivos profissionais e
considerá-los como um todo é o primeiro passo para a construção de uma base
de decisão que, em cada momento, nos orienta para o que deve ser feito hoje
no caminho do que queremos alcançar amanhã. Sem perder de vista que aquilo
que realizamos no passado: também é obra nossa.
Uma base de decisão para o uso do tempo corresponde a ter uma visão
global do futuro ao mesmo tempo que gerimos os detalhes do dia-a-dia.
Quando a nossa visão está clara, é necessário investir um pouco mais
de tempo na sua operacionalização e na clarificação dos objetivos de longo,
médio e curto prazo decorrentes da visão.
Agora que sabemos como é o futuro (a visão mais próxima da realidade
futura é a nossa representação de como queremos que ela seja), temos de levar
a cabo as atividades que garantam que os fatos vão acontecer.
É aqui que precisamos de uma estrutura que nos possibilite ter uma
visão global de todas as atividades e saber sempre em que área estamos a
trabalhar e qual a sua finalidade. De outro modo, tudo não passaria de um
amontoado de tarefas não relacionadas e cujo fim não seria claro.
Para cada tarefa é necessário alocar tempo nas nossas agendas e
dispendê-lo realmente nessas e não noutras atividades. As agendas mostrarão,
então, um conjunto de compromissos e tarefas interligados que refletem
realmente um balanço correto entre o que fomos e fizemos, o que queremos
fazer hoje e o que alcançaremos amanhã. A energia e a motivação necessárias
virão da nossa percepção do futuro e da nossa visão global da vida
profissional e da vida privada. “
Autora: Maria Patriarca é Sócia-Diretora da TMI
Brasil (parceira da rede mundial TMI) e fundadora da PlanB Internacional.
International Master Trainer, tem atividades de treinamento e desenvolvimento
de consultores internacionais TMI e Plan B. Licenciada em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tem uma pós-graduação em
Gestão e outra em Gestão de Recursos Humanos.
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