Temos o prazer de divulgar, aqui em nosso Blog, mais uma das nossas associadas do Portal
Revelar Talentos... Ana Cristina, a Cris, como gosta de ser chamada.
Ela é uma escritora paraense que, desde pequena, adorava histórias de
sobrenaturais.
Depois de casada com o seu marido continuou o interesse e, nas suas
horas vagas, Cris produz seus contos ‘’na calada da noite’’, como nos paraenses
costumamos dizer, de quem só tem tempo para fazer algo na hora que o ‘’silêncio
rasga a noite fria’’.(rs)
No final, vamos colocar o link para a sua entrevista, concedida com
exclusividade para o Portal Revelar Talentos.
Conto: O choro
Esta história aconteceu há
muitos anos atrás, quando minha avó Alice era adolescente. Ela tinha uns 14
anos, morava no interior do estado, um lugar muito humilde,
atrasado. Naquela época, virgindade era tabu. Filho sem
pai pior ainda. Vó Alice fez amizade com Lúcia, uma moça que havia acabado de
chegar ao lugarejo. Lúcia era bonita, morena jambo, olhos grandes, cor de mel, corpo
escultural. Sua família era muito humilde. Lúcia fez amizade com a filha do
capataz da fazenda próxima, Marta.
Com pouco tempo de amizade e
elas três iam de um lugar a outro, tomavam banho juntas no rio etc. O pai de
Lúcia era lavrador e faleceu deixando os 6 filhos órfãos. Lúcia precisou
trabalhar para ajudar na despesa de casa, então pediu à Marta que
arrumasse emprego na fazenda onde sua família morava e
trabalhava. Marta conseguiu se empregar como babá na sede central da
fazenda quando Lúcia já tinha seis meses no trabalho. Nessa época,
Márcio, o filho do patrão, que havia ido estudar em outro
estado retorna. Era um rapaz alto, forte,
olhos claros muito falante e galanteador.
Logo que ele conheceu Lúcia,
ficou encantado com sua beleza rústica. Ela, porém, muito tímida, nunca havia
conhecido esse rapaz tão bonito. Ele era diferente dos rapazes que ela conhecera logo
no início. O rapaz começou a jornada de conquista. Menos
de dois meses os dois já estavam namorando escondidos. Márcio sempre investia
sobre Lúcia e ela, mesmo apaixonada, não cedia. Mas, com passar dos meses, a
moça já a muito apaixonada não resistiu e cedeu às contínuas investidas de
Márcio e eles ficaram juntos algumas vezes. Lúcia não contara nada
nem para suas amigas Alice e Marta.
Depois de algum tempo ela
engravidou, ficou apavorada, chamou o rapaz e contou tudo. Ele,
porém, não quis saber do assunto e terminou tudo com ela. Lúcia, sozinha, sem
saber o que fazer como contar para sua mãe. Como
reagiria ela? Márcio sendo pressionado pela moça, contou ao seu pai
que rapidamente tratou de mandar Lúcia embora do emprego e mais que depressa
inventou um noivado de seu filho com uma moça, filha de um amigo
fazendeiro.
Lúcia que já tinha dois meses de
gravidez, desesperada e sem saída, com muito medo, procurou uma índia, velha
curandeira, que morava na mata. Contou-lhe tudo e pediu sua ajuda
para o aborto. Pois, em seu desespero e ignorância, achou esta a melhor saída.
A índia velha, Matubira era seu nome, fez um unguento e
uma pajelança, mandou que Lúcia tomasse uma poção em uma noite de
sexta feira e disse a hora de tomar. Disse que deveria tomar e que
teria que ficar na beira do rio para esperar o
resultado. Ressaltou que a moça teria que cumprir todo um
ritual de pajelança para conseguir o que queria duas horas depois.
Lúcia sentindo muita dor, suando
frio, pôs o feto pra fora do útero. Era um menino que ela
deu o nome de Zinho . Lúcia pegou-o e colocou em um saco com uma
pedra, jogando no rio para que afundasse. Ela fez tudo escondida.
Ficou doente, abatida, chorava muito, ninguém sabia o motivo.
Passados meses do acontecido, toda sexta, no mesmo horário, de madrugada, no
silêncio da noite, ouvia-se um choro de criança pequena que
aumentava a cada minuto, com algum tempo e depois parava, ficando
o silêncio. Na época não havia não havia iluminação no
lugar e também haviam nascido algumas crianças no local e ninguém
deu bola para os choros. Por fim, como o povo do interior é cheio de superstições,
medo etc, ninguém nunca foi saber o que era ou quem.
Ouvia-se uma canção de ninar de
vez em quando e o povo sabia que vinha do igarapé que ficava
próximo. Mas ninguém se habilitava a ir lá. Depois de algum
tempo, mudou-se para o lugar, Dona Joana, uma mulher de
fora, muito intriguenta, curiosa, e fofoqueira. Quando
ela começou a ouvir os choros e tudo mais, cuidou de perguntar quem
era a criança que chorava à noite. No entanto, não conseguiu
descobrir, pois ficou matutando, pois a criança só chorava na sexta e também
não havia recém-nascido próximo, já que os que estavam
perto eram grandinhos. A mulher perguntou,
fofocou até que soube que isso já acontecia há tempos, só que
ninguém quis investigar. O povo do interior acredita em assombrações, mula sem
cabeça etc.
A velha então ficou na butuca.
Em uma sexta feira, chamou o marido e disse:
- “Hoje descubro que diabo de
choro é este vindo do rio.”
Pegou um lampião, um terçado, e
foi com o marido. Ficou lá, no meio do mato, escondida, até que adormeceu. De
repente, acordaram quando ouviram o choro da criança.
Então olhou para o outro lado. Eis que uma pessoa se aproxima, vestida de
roupas de dormir até chegar á beira do rio . A velha se aproximou com o
marido, bem devagar, sem fazer barulho algum, percebendo que a moça
ajoelhava-se na ponte, pegando algo de dentro do rio. A
velha chegou perto e viu que era um bebê. A moça, que era a
Lúcia, amamenta-o canta uma canção de ninar e o bebê
cala-se. Depois a moça o punha de volta ao rio, ele afundava e ela retornava
por seu caminho. A mulher ficou apavorada com o que viu. A moça parecia
estar em transe, pois não percebeu a presença da mulher e do marido
a observando.
Pela manhã a mulher espalhou o
que vira, só não sabia dizer quem era a moça. Porém, viu que ninguém
lhe dava atenção. Ela reuniu umas pessoas e disse que iria provar o
que dizia. Foram lá para o rio e fizeram tudo
como antes. Quando Lúcia pegou o bebê para alimentá-lo e
cantando sua canção de ninar eis que todos foram ao
seu encontro e fizeram uma confusão. Repentinamente, Lúcia, que
parecia estar em transe, acorda pergunta o que todos e ela faziam no
rio naquela hora. A senhora contou tudo à
Lúcia. Eis que ela danou-se a chorar e disse
tudo o que havia feito. Sua mãe, que estava presente,
compadeceu-se de sua dor e pediu aos pescadores que mergulhassem e
tentassem encontrar os restos da criança para dar um enterro digno a ela.
Porém, depois de tanto tempo procurando, não foi possível achar algo. Então,
sua mãe pediu ao padre para dar um enterro simbólico ao bebê. Desde
então o choro acabou e Lúcia de tão envergonhada foi embora do
lugar, nunca casou-se e dedicou-se a cuidar de crianças
de orfanato, falecendo com 83 anos, há cinco anos atrás
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Na hora do desespero,
antes de procurar a saída que você acha que seja a única, procure Deus, pois
Ele nunca a deixará na mão!
Link da entrevista de nossa associada Cris no Portal Revelar Talentos
Bjs,
Alda
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