Síndrome
de Boreout : a outra cara do Burnout
Invisível aos olhos, o problema é apenas detectado quando atinge
níveis intoleráveis. Como combatê-lo?
Há algum tempo, organizações de todo o mundo estão se tornando
conscientes do papel do estresse ocupacional e da qualidade de vida no
trabalho como fatores que deveriam estar alinhados ao planejamento
estratégico, gerando maior produtividade, competitividade e diminuindo
custos, acidentes, etc.
O estresse ainda é um dos vilões do mundo corporativo atual. Invisível
aos olhos, o problema é apenas detectado quando atinge níveis intoleráveis,
aparecendo nas despesas médicas, na alta rotatividade e gerando conflitos
interpessoais nas equipes. Dados de 2005 já apontavam para uma perda anual de
300 bilhões de dólares nos Estados Unidos com despesas relacionadas ao
estresse excessivo.
Em uma das analogias mais sonoras sobre o estresse ocupacional, ele é
comparado ao exagero no estiramento das cordas de um violino, ao ponto de
comprometer o som do instrumento e a própria vida útil delas. Realmente,
pressionar exageradamente os colaboradores, com múltiplos papeis, sobrecarga
de trabalho e tensão disfuncional contribuirá para a criação de um ambiente
exaustivo e tóxico. Mas, a complexidade do mundo atual traz novos desafios,
incluindo o estresse que é resultado do oposto da tensão disfuncional,
denominado por boreout, sendo o presenteísmo um dos seus aspectos mais
conhecidos em nosso meio.
O ambiente de trabalho aborrecedor, com metas muito abaixo da
capacidade dos trabalhadores, tarefas monótonas e repetitivas e sem
colaboradores alinhados à cultura organizacional, representará uma folga nas
cordas do violino tão impactantes quanto o excesso de estiramento.
Na verdade, ocorre que sofremos de uma grave desafinação nos ambientes
corporativos modernos. Nossos maestros padecem pelo excesso de tensão, mas
também pela falta da disciplina e do compromisso com os valores essenciais da
organização. A quinta sinfonia de Beethoven vem soando mais como um desses
hits "tchu, tchu, tchu, tcha, tcha, tcha" que alcançam sucesso
comercial, mas com pouca chance de serem lembrados em futuro bem próximo.
Então, só resta refletir: o que os líderes, realmente, desejam alcançar com
seus colaboradores?
Mesmo em 1908, pesquisadores apontavam para a importância do
equilíbrio entre estresse e produtividade, sendo que muito estresse
compromete a saúde e a competitividade das organizações. Por outro lado,
pouco estresse gera indisciplina, monotonia e desinteresse que também pode
afrouxar, em demasia, as cordas do violino organizacional.
Curiosamente, vivemos em uma cultura que impulsiona situações e
momentos de dispersão mental, ao passo que os mais recentes achados da
psicologia sustentam que as atividades que exigem atenção, e que são
desafiantes (mas não fora do alcance), aumentam a sensação de felicidade,
maximizando o bem-estar emocional.
Alguns levantamentos internacionais apontam em até 87% a porcentagem
de trabalhadores descrevendo-se pouco (ou nada!) ligados à sua empresa. O
desafio atual dos gestores, portanto, é afinar o instrumento, proporcionando
um ambiente de trabalho cada vez mais dinâmico e encorajador, mas tomando
todo o cuidado para não perder o tom.
Autor: Armando
Ribeiro das Neves Neto é professor do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa
Fonte: Revista Você/Abril
Arte e Pesquisa para o Blog Diário das Gêmeas Paraenses: Vitória de Cássia
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