Pois bem, este conto tem como cenário um cemitério, policiais e almas do outro mundo como personagens.
Era uma vez...
Numa noite fria e sombria, onde os cães uivavam sem parar, barulhos estranhos, passos rápidos e gritos arrepiantes eram ouvidos na esquina de um cemitério. A lua estava quase cheia. Nuvens brancas azuladas estavam ao seu redor onde um cheiro de folhas secas podia ser sentido junto com a brisa que circulava por entre os túmulos.
De repente, ouve-se um gemido, seguido de um grito que parecia ser de mulher. Na rua deserta, naquela hora, estava apenas vagando o vigia do cemitério que, ao ouvir o grito, corre em direção a uma sepultura antiga a qual pertencia ao túmulo de Efigênia Alleta.
O que fez o vigia perceber que era o túmulo de D.Efigênia, já que estava tudo tão escuro? A única explicação era porque, há minutos ele havia saído de lá, pois tinha corrido atrás de ladrões que insistiam em roubar o que restava de certos monumentos que enfeitavam ainda os poucos túmulos.
Olhando de um lado ao outro, observou que longe um vulto caminhava em direção ao portão. Porém, mal sabia o vigia que os ladrões já haviam saído do cemitério. Então, o que seria? Algum animal que resolvera encurtar o caminho de casa, já que o cemitério ficava entre uma invasão e uma rua?
Sua reação foi a de correr atrás do vulto. Foi o que fez! Contudo, ao tentar agarrá-lo, tropeça e cai, ficando algum minuto desacordado. Quando recupera os sentidos, percebe que uma mão fria toca-lhe o rosto e, ao abrir os olhos, depara-se com uma forma sem forma, ou seja, uma visão descaracterizada de uma pessoa na sua frente. Espanta-se... E morre ali mesmo, devido ao susto.
No dia seguinte, moradores da invasão chamam uma radiopatrulha para averiguar um corpo que estava estendido em cima de um túmulo. Coincidência ou não, tratava-se do túmulo de D.Efigênia Alleta!
A polícia chega ao local, observa o corpo que já estava rígido e constata-se que a morte ocorrera por volta das 3 horas da madrugada, presumidamente. Quando o corpo já ia sendo retirado para necropsia, um coveiro que estava olhando o movimento dos policiais decide verificar com mais detalhe aquele corpo frio e de olhos arregalados de terror e nota que havia uma queimadura em forma de cruz em sua mão direita. Isso fez com que os policiais ficassem perplexos com a constatação. Por isso combinam que, nessa noite, fariam uma ronda no cemitério em busca de respostas sobre o crime.
A noite chega e com ela uma névoa e um frio intenso. Ao chegar ao cemitério, os policiais encontraram dezenas de velas acesas que davam a impressão de uma cidade iluminada. Entreolharam-se e Antônio comenta:
-‘’ As velas são da mesma cor – azuis – e estão colocadas na forma de uma cruz’’.
José retrucou: ‘’ Coincidência! Olhe! Acho que alguém está tentando nos impressionar, pois a história do vigia morto foi muito comentada na cidade. “E disse então:
"Vamos que daqui a pouco amanhece e a gente não descobrirá nada.”
Repentinamente, um deles pisa em algo, olha e disse que era apenas um pedaço de vidro. E prosseguem a ronda. O vento dançava em volta das grandes árvores, a poeira fazia voltas em cima das sepulturas. Cada folha que caía era carregada para dentro de uma cova. A brisa fria batia em seus rostos, já cansados e uma grande coruja com seus olhos arregalados fitava-os.
Em dado momento, ouve-se vozes saindo detrás de um túmulo e José disse:
- “Será que hoje resolvemos este mistério? Vá pra lá que eu fico deste lado. Se for alguém, a gente pega! ’’
Depois de alguns segundos, porém, descobriram que era apenas um galho de árvore que com o vento do dia anterior não resistiu às fortes rajadas e ficara preso na árvore. E as vozes? Era o galho que, ao se mexer sobre a sepultura, fazia um barulho estranho que ambos por imaginação pensavam ser vozes. Voltando ao local de onde saíram, viram a foto de uma mulher em uma das sepulturas e com uma lanterna leram o que estava escrito: ... “Aqueles que foram culpados pela minha morte não terão sossego. Minha alma vagará pelas noites até que os culpados paguem pela minha morte... com suas vidas...”
De súbito, percebem que um vulto de uma mulher sai em direção ao portão. E correm em vão! A mulher some entre os túmulos. Antônio escora-se em uma tumba para descansar e não se dá conta que uma sombra sai de dentro de uma sepultura e agarra sua mão. Antônio espanta-se e tenta se livrar, mas, o vulto sussurra: “Vocês não deveriam ter vindo aqui! Eu sei quem vocês são... ela sabe...”.
Os policiais correm em direção ao carro. Assustados com o que ouviram, temem por suas vidas. A chuva era intensa na hora, porém eles saem em disparada. Dentro do carro um pouco atônitos, eles começam a recordar de uma triste cena vivida em um Domingo chuvoso...
Era uma noite quando saíram bêbados de uma festa. Quando seguiam em alta velocidade pela pista escorregadiça, atropelaram uma mulher que estava de costas, andando pela rua. De repente... Um baque forte sobre o pára-brisa... E uma imagem de dor daquela que acabara de ser atropelada.
Antônio gritou:
- ‘’O que fazemos?”
Ao que responde José:
- ’Nada... “Pois não poderemos socorrê-la, já que estamos bêbados...”
Na mão da mulher havia um terço ensanguentado. Seus olhos arregalados tinham se fixado na direção de seus atropeladores...
No dia seguinte à ronda no cemitério os corpos dos policiais foram encontrados dentro de um abismo... O curioso é que na mão de cada um havia uma cruz...
Fatalidade? Ou...
Alda de Cássia