"Ana tem 12 anos, mora numa grande cidade e tem disponível todos
os equipamentos e sistemas necessários para manter-se conectada 24 horas aos
seus amigos, aos familiares e aos colegas de escola. Para ela, seus vínculos
sociais estão intergrados, sem separação entre o ambiente físico e o virtual.
Maria tem 52 anos, funcionária pública aposentada. Vive numa cidade
pequena do interior. Há seis meses comprou seu primeiro computador e o
técnico, um rapaz de 20 anos, deu as primeiras aulas de navegação no universo
on-line. Hoje, ela já domina algumas ferramentas de comunicação on-line para
falar, seguir, curtir sua neta, a Ana.
As duas estão próximas! Apropriaram-se da tecnologia e da Internet,
cada uma ao seu modo, para fortalecer vínculos sociais. Claro que existem
muitas discussões contrárias a isso, buscando de forma injusta, nomear a
tecnologia e a Internet como vilãs no esvaziamento de sentido das relações
sociais. Prefiro uma visão mais otimista como a de Pierre Lévy, a Internet e
os arranjos sociais aumentam a nossa potencialidade criativa.
Harry Proust, grande pensador alemão, afirmava que “toda comunicação
começa no corpo e nele termina”; para ele, temos três tipos de mediação em
comunicação: a primária é o nosso corpo, a secundária são as mídias tradicionais
como jornais, livros e impressos e a terciária são os aparatos tecnológicos,
primeiro o rádio, depois a TV até chegarmos à Internet. Usamos mediações
diferentes para nos relacionarmos e em nenhuma delas, a nossa capacidade de
sentir é subjulgada.
As mediações tecnológicas são caminhos que encontramos para
estruturarmos e reorganizarmos a nossa percepção de realidade. São elementos
importantes de nossa prática social. E como visualizar isso dentro do
Marketing? Observando!
Dentro das plataformas de comunicação on-line nas quais empresas e
consumidores participam, já há indícios explícitos do “sentido digital”, que
devido à nossa habilidade de racionalizar tudo, fica limitado à
quantificação. As métricas e o monitoramento das redes sociais focam muito os
números. Fórmulas são criadas para classificar influência, amplitude,
posicionamento entre outras variáveis. São índices imprescindíveis para
elaboração, implementação e acompanhamento das estratégias de marketing
digital. Porém, não substituem o olhar para as “pessoas”. A quantidade de
“Likes” numa página nem sempre contribui para a formação de vínculo entre
empresa e consumidor, a quantidade de “Followers” não garante vantagem
competitiva.
Os cases de sucesso que são divulgados, possuem algo em comum: a capacidade
de criar vínculos com seus consumidores. Vínculos sociais são alimentados
pela nossa capacidade de sentir. O sentir digital vai além do que monitorado
exclusivamente em números.
Todos nós sentimos que tipo de relação a empresa/marca deseja manter com
seus consumidores. Muitas preferem manter-se em pedestais de adoração e
religiosamente pregam seus atributos como seres divinos e supremos. Poucas
empresas estão dispostas ou perceberam que construir vínculos é ultrapassar o
nível mais básico de relacionamento – a transação comercial.
Anas, Marias e demais consumidoras, já sabem usar isso muito bem, em
níveis mais avançados de relacionamento. Por que não as observamos com calma?
A eles também? Sua empresa ainda tem dificuldade em perceber o que é o “sentir
digital”, então comece a “observar” como seus consumidores se relacionam uns
com os outros, como se expressam, quais conteúdos compartilham e que marcas
comentam. Tudo isso é complementar ao monitoramento quantitativo, é também ir
além do que os números dizem.
Essa observação é um processo sem roteiro definido, apenas de
navegação no ambiente on-line e exploração do conteúdo dos diálogos e
material publicado pelos consumidores. Aprendamos com eles o que é o “sentir
digital”.
Se durante a jornada de observação on-line, o profissional de
marketing se perceber feliz, triste, indignado, curioso, reflexivo. já estará
vivenciando o “sentir digital”, porque, por trás de todos esses avanços
tecnológicos, há pessoas que constroem seus vínculos com outras, com
empresas, com instituições, com marcas e com elas mesmas.
Autora: Janaira Franca -
Mestranda em Comunicação, pesquisadora do comportamento feminino, consumo e
tendências, consultora na área de marketing estratégico, comunicação digital
e branding, é sócia diretora da Athenah Marketing e Comunicação. Especialista
em marketing e bacharel em administração de empresas. Atuou na área de
marketing no Terra Networks, Bosch Rexroth, RBS TV (Globo). Professora nos
cursos de graduação e pós-graduação na FGV Online e professora assistente na
Cásper Líbero. No Twitter é @janairafranca."
Fonte:http://digitaisdomarketing.com.br/o-sentir-digital-e-sua-importancia-para-o-marketing
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