Este conto foi inspirado em minhas crianças com Deficiência Intelectual,
que atendo em um Centro Multidisciplinar de Saúde.
A personagem é a Cecília, uma criança com Síndrome de Down, que atendo
nas sessões de Terapia Ocupacional.
Vejo a dedicação, não só dos pais de ‘’Ceci’’, como é carinhosamente
chamada por todos, mas de todos que convivo no Centro.
Penso que, todo o dia, Deus me presenteia com um dos mais preciosos presentes...
‘’O dom de amar’’.
Amo o que faço, para quem faço, e sou muito agradecida á Deus por esta
missão. Todos nós temos uma missão na vida... Eu sei hoje, que essa é a minha.
Bem, o conto fala de uma jovem com Síndrome de Down, que escreve uma
carta para Deus, revelando a percepção que tem do mundo que a rodeia, e do amor
que recebe, quando é amada 21 vezes.
*******
Uma carta para Deus
Ouço uma música! Ela fala de Amor em sua melodia. Um
silêncio no quarto... Sinto a Sua presença, meu Deus! Deus de amor! Sempre
sinto a sua presença, principalmente nas horas que não sou compreendida, quando
alguém olha para mim com indiferença.
É forte a sensação que está aqui! Sinto!! O vento bate
e entra no meu quarto, trazendo a brisa da noite que chega. E eu aqui a
escrever para o Senhor!
Quantas pessoas vivem hoje sem conhecê-Lo e sem sentir
a Sua presença? Talvez por isso muitas matam e se matam. Brigas, guerras são
consequências da falta de Deus nos corações.
Pobres criaturas! Muitas não percebem que os raios de
sol vêm das Suas mãos e que irradiam Amor em forma de luz. As estrelas surgem
quando o Senhor estala os Seus dedos e nos avisam naquele pontinho de luz que
está ali.
As flores! Que belas são quando desabrocham! Sei que
elas se abrem porque sentiram o Seu
toque. Todas as vezes que alguém faz o bem ao seu próximo, o Senhor responde ao
mundo que está feliz desta forma. Ai se todos soubessem disso! Quanto bem faria
aos mais pobres dentre os pobres!!
As crianças que vem ao mundo são a certeza de que o
Senhor , meu Deus, acredita que o homem um dia será a Sua semelhança, não de
aparência, mas de bondade e humanidade.
Nasci com um cromossomo a mais, no par 21. Dizem que
sou Síndrome de Down. Na verdade, sou Maria Cecília, a irmã do Haroldo. Por
sinal, meu irmão, assim como os meus pais, tem um imenso amor por mim. Sabe
como é amor à primeira vista?
O que é ser diferente? Não sei! Mas lá na APAE sou
vista com uma criança que nasceu com um atraso. Hoje, sei que isso significa
dificuldade em meu desenvolvimento. Por exemplo, demorei a andar, a falar e a
escrever. Só isso!!
Meus colegas de turma, o Gustavo, e o Artur José
também passaram por isso e estão aí para provar que somos diferentes sim. Nem
os gêmeos univitelinos são iguais na aparência.
Talvez seja diferente porque desejo que um dia não
exista mais no mundo a fome, que as pessoas não fiquem dormindo nas ruas, que
ninguém abandone os seus pais quando eles ficarem velhos, que um filho nunca
levante a voz para a sua mãe e que Deus toque o coração daqueles que fazem o
mal ao seu próximo. Isso é ser diferente? Eu sou!!!
Termino aqui á minha cartinha ao Senhor, que é meu
Deus. E vou colocá-la esta noite debaixo do meu travesseiro para que eu sinta a
Sua presença quando vier buscá-la.
Saiba meu Deus, que desejo que um dia as pessoas sejam
melhores do que são. Quando o Senhor permitiu o nascimento de uma criança com
Síndrome de Down, ou seja, tendo 1 cromossomo a mais , no par 21, foi para
dizer ao mundo ‘’ AMO 21 VEZES VOCÊS!
‘‘. Saiba que quando sou amada pelo que sou e não pelo que as pessoas
desejariam que eu fosse eu irradio 21 vezes o Seu amor que o guardo no peito.
Obrigada, meu Deus, por me fazer um instrumento do seu
amor!
*****************************
Espero que você tenha gostado !
Bjs,
Alda
Nenhum comentário:
Postar um comentário