Lembro-me
quando nasceu meu primeiro filho. Ele é fruto do amor que nutri por
anos pelo meu marido José! Ah! José, o meu velho, é companheiro, marido e
amigo. Casar é fácil, mas ficar mantendo uma relação por deveras é
muito difícil. Somos seres únicos, individualizados e o matrimônio não
te permite conjugar mais a palavra meu. Tudo tem que ser compartilhado. Amor dividido e até as dívidas, creia nisso, também.
Pois
bem ! A história que vou contar a você é um exemplo de um ser muito
especial em minha vida: Minha mãe-madrinha, que é exemplo de dedicação.
Ela morava no interior do Pará, teve 7 filhos e apenas 4 resistiram à
fome de uma terra castigada pela grandes enchentes do rio Araguaia.
Eu
era adotiva, mas era tratada como filha legítima. Fui amada por meus
irmãos adotivos e juntos dividíamos um pedaço de pão e até um prato de
feijão, quando a estiagem chegava em nosso terreno.
Estudávamos
em uma escola de chão batido. De poucas cadeiras, mas existia um ser
angelical que se chamava professora Teresinha. Tão dedicada, até
comprava cadernos quando sobrava algum dinheiro do seu salário. Mas,
caderno a que me refiro se chamava
“borrachura”, folhas de pão costuradas a barbante. Merenda escolar ?
Confesso que na época era um bocado de migalhas de pão ao leite de
cabra. Lembro-me o quanto era difícil dividir um lugar na mesa de barro,
pois éramos 37 crianças em uma mesa que não dava nem 20 pratos. Mas
como Deus é bom, comíamos bem espremidinhos e felizes.
Não
me estenderei muito, pois minha estória é longa, cheia de caminhos
incertos, onde as tristezas e as alegrias fizeram parte da minha
adolescência. Ah! Tempo que não volta mais ! Meus 80 anos pesam-me nas
pernas já tão pesadas. Ando devagar por que já tive pressa !
Repetindo uma parte de letra uma música que gosto de ouvir aqui em
casa.Tive espinhas que um sebo de Holanda resolvia. Comer chiclete, ou
melhor, mastigar pão duro para ficar mais tempo na boca era chique na
época. Hoje, se masca chiclete que os dentistas recomendam. Como tudo
muda ! Não é verdade?
Queria
mudar o mundo ! Mas, agora sei que é preciso mudar a si mesmo para
transformar o mundo em um local melhor para se viver. Música ? Viola e
muita cantoria me fazia sacudir o esqueleto. Não tínhamos vícios e
também não tínhamos tempo para nos divertir. Carregávamos galões de água
na cabeça porque o poço com água cristalina ficava a cerca de 5 metros
de nossa humilde casa. Acho que, é por isso que tenho um furinho na
cabeça igual boto, que vira e mexe me incomoda.
Ah,
essa doce felicidade que tantos desejam ! Casa grande, carro na
garagem, um emprego seguro, um casamento dos sonhos. Mas muitos tão
solitários em meio à multidão ! Minha felicidade chamava-se açaí com
tapioca e peixe na brasa. Ficava salivando quando minha mãe fritava
aquela gostosura.
A
vida melhorou, tenho que confessar. Pois, além de meu pai, um excelente
pescador, eu e meus irmãos já trabalhávamos. Meu trabalho era em um
cartório. Que tempo bons ! Lembro-me que cada criança era um registro e
nunca esqueço de um nome que me chamou muita atenção: Preciosa aos olhos do Pai Santos Silva. Estava tão curiosa naquela época que perguntei ao pai a origem do nome. Ele me disse em prantos:
“Minha filha é um presente de Deus. Ela nasceu roxinha, não chorou, mas minha esposa neste momento pediu a Deus: .... “Salve meu Pai a minha filha! Ela é preciosa pra mim sabes disso”.... e aconchegou-a em seus seios e ao erguê-la aos céus, ela chorou.
Chorei
ao ouvir a história e choro agora quando relato a você. A felicidade,
meus caros, não deve ser um calçado que só servirá em seus pés, mas que
possa ser ajustado em quem é o seu companheiro de viajem nesta estrada
chamada vida.
Termino aqui, com a esperança de ter jogado em seu coração uma semente chamada esperança.
Semente que crescerá todas as vezes que você regá-la com a água da
coragem e perseverança para lutar por seus ideais e morrerá quando
duvidares da sua capacidade. Só os pessimistas recolhem a bandeira da
vitória sem terem partido para a batalha .
Pense nisso !
Autora: Alda de Cássia
Arte: Vitória de Cássia