A palavra carnaval tem
origem no latim "carna vale"
e que significa dizer "adeus à carne".” Isso se deve ao fato de preceder a Quaresma, período em que a Igreja Católica recomenda que os fiéis façam jejum e penitência.
Na verdade, o carnaval possui influências antigas. Entre essas influências
estão as festividades gregas ao deus Dionísio,os bacanais e as Saturnálias na
Civilização Romana.
Em relação aos bacanais, o culto à
Baco, foi introduzido na Etrúria, antiga região na Península Itálica. O culto
que já era conhecido na Magna Grécia, era celebrado durante à noite,
admitindo-se homens e mulheres, dando origem a excessos de libertinagem. Foi da
Etrúria que os mistérios dionísicos chegaram à Roma. Primeiro os cultos eram só
para mulheres, mas depois homens e mulheres se entregavam a todos os excessos
do vinho e à promiscuidade, possuídos pelo furor de Baco.
As Saturnálias era um festival
romano em honra ao deusSaturno (Cronos para os gregos), que ocorria no mês de dezembro, no solstício de
inverno. Na comemoração as pessoas dançavam, usavam máscaras e pulavam para o
alto. Tinham início com grandes banquetes e sacrifício. Durante estes festejos
os escravos se comportavam temporariamente como homens livres; elegia-se, à
sorte, um princeps — uma espécie de caricatura da classe nobre
— a quem se entregava todo o poder.
Na verdade a conotação religiosa da
festa prevalecia sobre aquela social e de classe. O princeps vinha
geralmente vestido com uma máscara engraçada e com cores chamativas, dentre as
quais prevalecia o vermelho (a cor dos deuses). Saturno para os romanos teria
ensinado aos agricultores como cultivar e as Saturnálias tinham a ver com a
fertilidade da terra, a plantação e as colheitas.
Com a ascensão
do cristianismo, essas festividades correram o risco de acabar. A Igreja
quis cancelar as Saturnálias, mas sem desagradar completamente a seus fiéis.
Então, no ano 325, ficou decidido que os 40 dias antes da Páscoa deveriam ser
guardados apenas para orações e jejuns - intervalo de tempo que ficou conhecido
como Quaresma. As festividades foram movidas para antes do início desse
período. Por isso o carnaval é uma festa móvel. A Igreja foi
forçada a consentir com a prática de certos costumes pagãos, muitos dos quais,
cristianizados. O carnaval acabou sendo permitido, o que serviu como “válvula de
escape”, diante das exigências que eram impostas aos medievos no período da
Quaresma.
Na Idade Média, o carnaval passou a
ser chamado de “Festa dos Loucos”, porque o folião perdia
completamente sua identidade cristã e se apegava aos costumes pagãos. Tudo
passava a ser permitido na “Festa dos Loucos”, com a abolição de todos os
constrangimentos sociais e religiosos. Havia várias licenciosidades, que eram,
geralmente,associadas à veneração aos deuses pagãos. Era um período
em que a vida das pessoas tornava-se visivelmente ambígua, pois a vida oficial
– religiosa, cristã, casta, disciplinada, reservada, etc. – unia-se com a vida
não-oficial – a pagã e libertina.
No Brasil, a origem do carnaval
brasileiro é totalmente européia. A comemoração carnavalesca data do início da
colonização, sendo uma herança do entrudo português e das mascaradas italianas.
Somente muitos anos mais tarde, no
início do século XX, foram acrescentados os elementos africanos, que
contribuíram de forma definitiva para o seu desenvolvimento e originalidade.
O "entrudo" desembarcou na
cidade do Rio de Janeiro, em 1641. O termo, derivado do latim
"introitus" significava "entrada", "começo", nome
com o qual a Igreja denominava o começo das solenidades da Quaresma. No
entanto, as festividades do entrudo já existiam bem antes do Cristianismo, eram
comemoradas na mesma época do ano e serviam para celebrar o início da
primavera.
O entrudo era uma brincadeira de rua
muitas vezes violenta. Era comum os escravos molharem-se uns aos outros, usando
ovos, farinha de trigo, polvilho, cal, goma , laranja podre, restos de comida,
enquanto as famílias brancas divertiam-se em suas casas derramando baldes de
água suja em passantes.
Com o passar do tempo e devido a
insistentes protestos e às proibições que passaram a ser impostas, o entrudo
civilizou-se, adquiriu maior graça e leveza, substituindo as substâncias
nitidamente grosseiras por outras , como os limões de cheiro (pequenas esferas
de cera cheias de água perfumada) ou como os frascos de borracha ou bisnagas
cheias de vinho, vinagre ou groselha. Estas últimas foram as precursoras dos
lança-perfumes introduzidos em 1885.
No tocante à música, tudo ainda era
muito precário; o entrudo não possuía um ritmo ou melodia que o simbolizasse.
Apenas a partir da primeira metade do século XIX, com a chegada dos bailes de
máscaras nos moldes europeus, foi que se pôde notar um desenvolvimento musical
mais sofisticado.
O uso de máscaras a partir de 1834 se
acentuou no Brasil. As fantasias apareceram logo após o surgimento das
máscaras. O primeiro baile de máscaras provavelmente foi o realizado no Hotel
Itália no Rio de Janeiro em 1840, por iniciativa dos proprietários italianos.
Começou a haver uma diferenciação social entre os participantes do carnaval de
salão, mais de classe média e a festa de rua ao ar livre e popular. Ainda no
século XIX surgiram os ranchos, os cordões e as marchinhas e no século XX
surgem as escolas de samba.
Em várias partes do país na passagem
do século XIX para o XX surgiram diferentes manifestações culturais envolvidas
com o carnaval, como o frevo em Pernambuco e os Afoxés na Bahia. O samba surgiu
em 1910 e passou a ser cada vez mais presente no carnaval.
O carnaval no Brasil, portanto, tem
origens europeias e se misturou com outros aspectos como as influências
culturais africanas. É uma grande festa, que possui seu lado comercial (venda
de máscaras, fantasias, bebidas, turismo etc), como também representa uma ampla
mostra da cultura brasileira, uma forma de reduzir as pressões do cotidiano, de
ironizar o poder, de soltar o corpo e de se exprimir culturalmente, embora
alguns excessos que ainda acontecem sejam reprováveis, como certos atos de
descontrole emocional ou agressividade que podem resultar em violência.
Com este artigo pretendi fazer um
histórico do carnaval, ressaltando suas origens e algumas características, mas
decerto é um tema amplo para ser desenvolvido em poucas páginas e sempre há
muito mais a falar.
Autor/Colaborador do Blog Diário das Gêmeas Paraenses: Márcio Rodrigues -Professor de História
e Psicólogo.
*Imagem: Opinião e Noticia